O medo de mudar aliado à incerteza.

Sinto-me tão cansada. Cansada de trabalhar, de estar em constante pressão e de não saber mais o que quero para mim. Trabalho como enfermeira desde 2019, e apesar de haver dias em que adoro a profissão, há outros em que só quero fugir. Eu trabalho no internamento e, embora goste da parte do cuidado direto, o ambiente emocional e a rotina pesada acabam por me desgastar de forma insustentável. O trabalho não é fácil; a rotina é exaustiva e o contato constante com estados agudos de saúde acaba por ser emocionalmente desgastante. Isso faz-me questionar se a enfermagem é realmente o que quero para o meu futuro.

Já passei por muita coisa, e a ansiedade sobre o que fazer com a minha vida tem se intensificado. Em momentos de reflexão, percebo que a minha maior vontade seria viver de uma forma mais tranquila. Eu sempre sonhei em ter uma casinha no campo, cultivar uma horta e dedicar-me aos filhos. Mas, ao mesmo tempo, sei que isso parece distante da realidade: não tenho o dinheiro necessário para isso, e a ideia de me afastar da profissão, sem uma certeza do que viria depois, assusta-me. Existe ainda o medo de que, se eu deixar o trabalho, as pessoas possam me ver como preguiçosa ou ingrata, e isso só me traz mais insegurança.

Há algo dentro de mim que me faz sentir mal por querer uma vida mais fácil, como se fosse errado desejar uma vida mais simples, sem tantas responsabilidades. Quando penso em pedir para mudar de área ou até mesmo em sair do meu trabalho, sinto como se estivesse a pedir o fácil, a procurar uma solução confortável, sem querer lutar. Isso faz-me sentir que estou a fugir das dificuldades, e o pior é que, às vezes, ouvi-mos comentários que nos fazem sentir ainda mais culpados por não seguir-mos os padrões da sociedade atual. Ouço pessoas a dizerem coisas como “Ah, eu também trabalho o fim de semana todo”, e isso faz-me pensar que, de alguma forma, estou a ser preguiçosa, que eu também deveria ser capaz de fazer mais, de trabalhar mais e de não me queixar tanto. Esses pensamentos deixam-me ainda mais confusa, como se eu estivesse a pensar de forma errada, como se a minha vontade de descanso e mudança fosse algo negativo. Parece que, ao desejar menos sobrecarga e mais equilíbrio, estou a querer algo que as outras pessoas não têm.

A comparação com quem trabalha mais e tem uma rotina mais dura faz-me sentir como se estivesse a tentar encontrar um “atalho”, como se não merecesse aquilo que desejo. Eu vejo tantas pessoas ao meu redor a lidarem com múltiplos empregos, com uma estabilidade financeira que eu não tenho, e sinto-me como se fosse fraca ou incapaz de seguir esse ritmo. Eu sou alguém que consegue viver com pouco, mas o cansaço mental e físico de tudo o que faço, de não saber o que quero para mim, tem sido esmagador.

Uma das áreas de enfermagem em que eu gostei de estagiar foi em saúde comunitária. Ultimamente tenho pensado sobre isso. Trabalhar diretamente com a comunidade, ajudar na prevenção de doenças e promover a educação em saúde foi algo que me fez sentir realizada. No entanto, às vezes, penso em sair da área de enfermagem e apostar em algo diferente, talvez em áreas que me proporcionem um equilíbrio maior. Mas, ao mesmo tempo, essa ideia não é algo concreto, porque eu realmente não sei o que quero para a minha vida. Não sei qual área eu procuraria, ou se a mudança seria a solução.

O que sinto é uma grande insegurança, uma falta de clareza sobre o que seguir e o que realmente faria sentido para mim. A dúvida sobre o futuro tem sido esmagadora, e essa incerteza é o que mais assusta. Além disso, há algo que mexe comigo. Vejo muitas pessoas a viverem de uma maneira que eu idealizo: com um estilo de vida mais simples, com alguma liberdade, a viajar pelo mundo e a viver com o que a vida lhes oferece. Isso parece tão apelativo, tão libertador. Mas depois, a realidade bate-me à porta: essas pessoas, provavelmente, têm a estabilidade financeira necessária para poderem escolher esse estilo de vida. Para mim, essa liberdade parece mais uma ilusão, algo inalcançável. É um sonho que me magoa, porque sei que nunca terei os recursos necessários para viver assim.

Gostaria de poder trabalhar em algo que me preencha, sem estar constantemente a lidar com situações que me drenam. Mas, por enquanto, fico perdida, sem saber o que fazer. Eu só quero uma vida mais leve, mais simples. E não sei como dar esse passo. O medo da mudança e do que ela pode trazer é algo real e presente neste momento da minha vida.