A ansiedade está em tudo. Está em acordar duas horas mais cedo com medo de me atrasar, mesmo sabendo que tenho tempo. Está em chegar ao trabalho antes da hora e, ainda assim, sentir que me atraso. Está na minha cabeça, que nunca para, a pensar no que ainda tenho para fazer, no que pode correr mal, no que os outros vão dizer.
É sentir que preciso de planear tudo para ter controlo, mas ao mesmo tempo querer uma vida sem planos. É dizer ao meu marido que ele é um apressado porque quer planear tudo, mas depois passar o dia a fazer planos na minha cabeça. É tentar organizar as tarefas da casa e acabar a saltar de uma para outra sem terminar nenhuma. Começo na cozinha, vou ao quarto, lembro-me da casa de banho, volto à cozinha e, no fim, parece que fiz tudo e nada ao mesmo tempo.
É o peso de querer fazer as coisas e não conseguir. Saber que tenho roupa para arrumar, mas ficar sentada no sofá a pensar “daqui a pouco eu vou”, e o dia passa e eu não fui. Não acho que é só preguiça, não é desleixo, é como se a energia desaparecesse. E depois vem a culpa, porque eu gosto da casa limpa, gosto de sentir que está tudo organizado, e fico frustrada porque parece que nunca é suficiente.
A ansiedade também está no meu corpo. Está nas mãos a tremer, no coração que dispara, no estômago que se revira sem motivo. Está no choro sem explicação, na raiva que aparece do nada, no 8 ou 80 de querer tudo e não conseguir fazer nada.
E depois junta-se o meu lado mais depressivo, e é um mix complicado. Eu quero estar mais com a minha família, sinto saudades, mas ao mesmo tempo não quero sair de casa. Quero estar lá, mas também quero estar sozinha. Quero ajudar os outros, mas sinto que já não consigo estar presente como antes. Antes fazia tudo, ajudava em casa, cuidava de toda a gente. Agora parece que falho para toda a gente, porque estou sempre cansada.
Mas ninguém vê isso. Eu saio de casa, coloco um sorriso e faço de conta que está tudo bem. Ponho um corretor nas minhas olheiras intermináveis e um blushzito para não parecer “morta”. Vou trabalhar com o coração a mil, as mãos a suar, a cabeça cheia, mas chego lá e sorrio. Porque não quero perguntas, porque nem eu sei explicar o que sinto.
E depois há aquelas perguntas que parecem inofensivas, mas que pesam como uma pedra. “Então, e o bebé, não vem aí?” Eu sorrio, dou uma resposta qualquer, mas depois, quando estou sozinha, choro. Se as pessoas soubessem o quanto eu queria ser mãe… Mas não sabem. Porque eu não deixo que seja sequer um assunto.
A ansiedade que eu vivo é isto, e mais que não consigo traduzir em palavras. É viver com o coração acelerado e fingir que está tudo bem. É querer mudar, querer fazer, querer sentir, mas ter sempre algo que bloqueia. É estar presa entre querer controlar tudo e não conseguir controlar nada. É cansativo. Mas, acima de tudo, é invisível para quem está de fora.
É também o choro que vem sem motivo. É a raiva que explode de repente. Pequenas coisas podem desequilibrar-me, e eu sei disso. Mas saber não significa conseguir controlar. Respiro e perco as respirações junto com a confusão de pensamentos. Às vezes, parece que não sou eu que tenho ansiedade, é ela que me têm a mim.

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