Tentar engravidar: Ansiedade e a pressão externa.

Hoje, não sei bem por onde começar. Talvez eu só queira desabafar, mas tudo o que eu digo fica confuso, sem conseguir colocar as palavras certas. Sem conseguir transcrever o que vai na minha cabeça. Noutro dia, pensei que queria escrever sobre como é difícil viver com o desejo de engravidar e tudo o que isso envolve, as expectativas, o peso emocional. Mas depois também queria falar sobre o meu dia a dia, sobre o que tenho vivido, o que sinto. E é tão difícil colocar tudo isso em palavras. Não quero ser só uma pessoa com desabafos negativos mas afinal criei este blog para puder escrever livremente sobre o que estou a pensar, por isso vou só continuar.

Hoje tenho consulta com o psiquiatra, e a verdade é que não sei o que dizer. Sabem quando já estão a pensar no que vão responder quando o psiquiatra pergunta: “Então, como tens estado?” Como é que eu posso explicar o que sinto, quando nem eu mesma entendo? Nem eu sei como tenho estado. A sertralina, que iniciei, não sei se está realmente a fazer efeito. Há dias em que parece que sim, porque já não choro tanto, já não me sinto tão em baixo, sinto alguma serenidade. Mas, por outro lado, continuo a sentir um cansaço enorme. E fico com aquela dúvida: será que sou eu que estou a ser fraca? Que já me vejo sempre neste estado? Será que todos os outros também não se sentem assim, mas só eu é que acho que não é normal? Tudo parece muito confuso e, mesmo sabendo que estou a fazer um esforço para cuidar de mim, sinto-me perdida.

E sobre a gravidez… como já disse, tentei não focar neste assunto. Porque, depois de tanto tempo a tentar e de tanta frustração, acabei por ter uma recaída e isso fez-me perceber que o meu foco tinha de ser em cuidar de mim. Ultimamente, tenho tentado viver o dia-a-dia com o meu marido, aproveitar a nossa relação antes de dar esse passo. Tento acreditar que essa é uma realidade possível. Mas, no fundo, ainda tenho sempre aquela esperança de que este mês, finalmente, possa ser o mês em que engravido. E depois, paro e penso, como posso engravidar se, na verdade, não tenho relações regulares com o meu marido? Ele é uma pessoa super compreensiva, sempre me apoiou, mas eu ando tão cansada, tão exausta, que a minha vontade de estar com ele a nível sexual praticamente desapareceu. Não é por ele, é por mim. Eu quero carinho, quero atenção, quero estar ao lado dele, mas não tenho sequer o mínimo de interesse físico. Já cheguei a brincar com ele a dizer que, talvez, seja assexuada. E isso assusta-me um pouco, porque, no fim de contas, como é que eu posso querer engravidar se nem sequer estou a fazer o que é necessário para isso?

Mas continuo a alimentar a esperança. A esperança de que a gravidez possa surgir, como dizem por aí, “quando menos esperares”. Eu fico sempre com aquela expectativa, que, no fundo, é uma mistura de esperança e medo. E é tão estranho, porque eu tenho tentado não pensar no assunto. No último mês, até consegui evitar abrir as apps de controlo do ciclo menstrual, não me preocupei com a ovulação nem nada, e sinto que foi mesmo genuíno e libertador. Não me sinto tão pressionada, mas, ao mesmo tempo, parece que o tema da gravidez vem ter comigo. Como se o universo inteiro quisesse-me lembrar disto a toda a hora.

Outro dia, acordei e fui ver o TikTok, e a primeira coisa que me apareceu foi um vídeo que falava que “março, era o mês das grávidas”. Estranho, pois já não me aparecia conteúdo deste à muito tempo. Nem fiz pesquisas recentes sobre o tema. Aquele friozinho na barriga apareceu, porque eu estava tentar evitar pensar nisso. Mas, claro, continuei a ver mais vídeos. E o que aparece? Mais e mais vídeos sobre gravidez, mulheres grávidas, pessoas a anunciar que estavam grávidas, uma até dizia que tinha deixado a pílula e, um mês depois, já estava grávida. Isso mexeu comigo de uma forma que eu não consigo nem descrever. Fiquei nervosa, triste, perdida. Porque eu, que tanto desejei isso, parecia que estava a ver tudo acontecer à minha volta, com pessoas que não estavam nem a tentar e que, em tão pouco tempo, conseguiam. Pessoas que até engravidam sem querer. E eu, que faço tudo o que é suposto e continuo a não conseguir. E isso dói. E depois, tentei distrair-me. Saí do TikTok e fui para o Instagram, e o que é que me aparece? Uma música da Carolina Deslandes para a filha da Bárbara Tinoco. Fui ouvir a música e não consegui parar de chorar. Chorei muito, e pensei: “Porque é que eu não tenho direito a esta felicidade? O que é que fiz de errado para não conseguir o que tanto quero?” Eu só queria, só queria conseguir o meu positivo. E depois, percebi que a minha manhã tinha sido consumida por estes pensamentos, por esta angústia.

Comecei a pensar que estava a adiar um sonho. Mesmo sabendo que a pausa que eu tentei dar não foi para desistir, mas para cuidar de mim. No último ciclo, parei o ácido fólico, não tomei o Dufine, porque estava tão exausta que eu só queria parar, respirar. O efeito do Dufine, junto com o início da sertralina, estava a ser demais para mim, suores repentinos, calafrios, náuseas, dores de cabeça, cansaço. E então, decidi que eu tinha de ser a minha prioridade. Mas naquele dia já nada fazia sentido , a minha cabeça invadiu-se com tantos pensamentos quando comecei a ver que o tempo estava a passar, e que talvez estivesse a perder várias oportunidades para ser mãe. E isso fez-me chorar ainda mais, porque parece que estou a deixar escapar algo que é o meu sonho.

No entanto, eu tento me manter forte. Tento. Mas todos os dias, parece que o tema da gravidez volta. Mesmo que eu não queira, ele aparece, e as pessoas começam a falar sobre isso, a perguntar quando é que vou ter um filho. A minha mãe, até a minha sogra, todos perguntam, como se fosse fácil. E isso dói tanto. Eu quero tanto, e se as pessoas soubessem o quanto isto me magoa, o quanto é difícil para mim lidar com isso, talvez parassem de perguntar. Mas elas não sabem, porque eu também não quero os olhares de pena, as perguntas invasivas sobre o processo. Eu fiz sempre tudo certinho, tomava o ácido fólico desde 2022, e tentava tudo o que estava ao meu alcance. Cheguei a ter relações quase todos os dias, durante 1 mês, sem vontade, sem interesse, só para não perder uma oportunidade. E nada. E dói. Dói muito. E há um mês, parei de pensar tanto nisso, mas, de repente, tudo volta. Até no trabalho, mais uma grávida, e perguntas , comentários como : ” Estás mais magra, perdes cinco quilos, para ganhar dez quilos, vêm aí bebé”. Porque é que não consigo? O que é que fiz de errado para não conseguir? Eu sei que não estou sozinha, mas às vezes parece que estou.

E eu tento, juro que tento não me comparar, mas é tão difícil quando parece que tudo à minha volta está a acontecer e eu fico aqui, presa, a sentir que não mereço o que tanto quero. Não é que eu tenha inveja das pessoas que conseguem engravidar, não é isso. Eu só quero ter a minha oportunidade também. Depois surge outro medo, e se eu estou a desejar tanto e a não deixar apenas acontecer, e, depois posso ser “castigada” e ter uma gravidez terrível, ou até mesmo o meu bebé ter algum problema, o medo que algo corra mal devido a toda a minha pressa. Por isso, mais vale manter o foco em cuidar de mim, em tentar equilibrar tudo. Porque, no fundo, sei que não posso deixar de cuidar de mim. E eu sei que tenho que me focar em melhorar a minha saúde mental e física, mas parece que, de alguma forma, as coisas à minha volta continuam a lembrar-me do que eu ainda não consegui. E é muito doloroso. Eu só queria que as pessoas soubessem o quanto isso me interfere com o meu dia, o quanto me custa. Não é só uma espera, é o medo de nunca ser possível, é não saber o que responder, é querer tanto e ter medo de tanto querer.

Peço desculpa se este post se tornou massivo, longo e confuso. Sei que há muitos pensamentos misturados aqui, mas a verdade é que precisava de falar sobre tudo isto. O blog é o meu espaço de partilha, o meu diário e no fundo um passo para o meu autocuidado. Se chegas-te até aqui só tenho a agradecer por me acompanhares neste processo.