Transcrições de pensamentos…

Quando criei este blog, jurei a mim mesma que não ia fazer disto uma nova pressão, o sentir que deveria escrever mais ou todos os dias escrever alguma coisa. E assim tenho feito. Estive uns dias sem escrever. Foram uns dias difíceis. E precisava de processar tudo o que me aconteceu e de perceber até que ponto queria partilhar. Houve uma mudança repentina na minha vida, na minha condição de saúde que não era possível prever. Dentro de tudo o que podia ser, calhou o menos mau. Foram os dias mais confusos, a tentar assimilar tudo e resolver tudo, só agora é que caí em mim. E preciso de desabafar e pensei que fazê-lo assim podia ajudar a processar o que sinto.

Hoje fui a uma consulta, pois preciso de fazer uma medicação que envolve acompanhamento diário e eu esperava algo diferente. A pessoa que me atendeu disse que tenho que ser positiva, que estou bem, que as coisas vão correr bem. E eu expus os meus medos. Disse que desde fevereiro não estava bem, que andava sem apetite, a perder peso, que já tinha tido uma recaída e que sentia que fui desvalorizando tudo isso. Mas a pessoa que me atendeu parecia que não quis saber. Só disse que eu apanhava todas as doenças e que atraía todas as doenças, com um sorriso, pois conhece-me desde pequena. E que não podia entrar em depressão outra vez, como se eu escolhesse estar assim. Como se eu escolhesse tudo isto. Eu sei que estou cansada e estou confusa, e pergunto-me se sou eu que estou a perceber tudo mal e a interpretar as coisa pelo lado negativo, mas eu tenho medo e estou cansada.

Eu nunca fui de falar com os outros daquilo que sinto, não quero que se preocupem, nem o meu marido, nem a minha família. Não quero ninguém preocupado, porque eu sei e tento cuidar de mim, eu vou falando sozinha e as vezes deixando só os pensamentos surgirem e ficar em silêncio. Hoje foi diferente e falei com alguém do que sentia fisicamente, emocionalmente e a resposta que tenho é que “sabes que há tratamento, e que há cura”. Sim, eu sei, mas o meu medo é se o meu corpo não aguentar o tratamento. Não é só a doença que me assusta, é o tratamento também. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho medo de estar a ser negativa. Porque todos me dizem que é só tomar os comprimidos e que estou bem, que não tenho sintomas graves, que estou bem, por isso é só tomar a medicação e ser mais forte, pensar positivo, pareces-me bem.

Prefiro ficar calada do que acharem que me estou a fazer de vítima. Porque nem eu sei se estou a ser negativa, se me estou a fazer de vítima. Será que estou ? Mas, as manhãs têm sido extenuantes, têm sido cansativas. Eu acordo bem, hoje até acordei bem. Mas logo depois começo a sentir-me exausta, com tonturas, enjoos e cansada. Tomei a medicação, e fiquei tão, tão, tão enjoada, com um desconforto abdominal, azia. Parecia que não tinha energia nenhuma, e só tinha passado duas horas desde que acordei. Sei que é normal, são efeitos secundários. Não conseguia tomar o pequeno almoço, cada pedaço de pão que me obriguei a comer parecia que o ia vomitar.

Eu sei os cuidados que tenho que ter com a medicação, mas e se eu não conseguir? Não porque não queira, mas porque não consiga. Se eu não conseguir comer porque estou enjoada, se eu não conseguir beber um litro e meio de água por dia porque estou mal disposta. Se não conseguir… e se o meu corpo não aguentar o tratamento? Sei que vai correr bem, sei que é só a adaptação, mas não consigo deixar de ter medo.


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